Tive Covid... O testemunho!

Vivemos tempos estranhos! 

De um momento para o outro o mundo parou
A economia nacional e internacional afundaram-se
Deixámos de poder beijar, abraçar e até ver a nossa família e os nossos amigos. 
Assistimos a noticiários sem qualquer outra notícia. 
Pela primeira vez vimos união entre os partidos políticos e tudo o resto, como o futebol (tão badalado neste nosso país), passou para segundo plano. 
Os céus deixaram de ser sobrevoados.
No início conhecemos o significado da palavra quarentena e neste momento "recolher obrigatório" já faz parte do nosso dicionário.
E depois veio a crise, a angústia, a solidão
Deparámo-nos com filas de caixões e valas comuns em países desenvolvidos e em desenvolvimento, sem discriminação. 
Muitos dos pequenos negócios não resistiram e o desemprego disparou em Portugal e no resto do mundo. Como consequência, o desespero, a fome e a miséria.
Aos profissionais de saúde foram tiradas as férias, o descanso e a humanidade
A depressão e a ansiedade surgiram ou agravaram-se entre os mais jovens e os mais velhos.
A máscara e os desinfetantes passaram a ser os nossos maiores aliados.
Neste momento não reconhecemos ninguém pelo rosto. Apenas pelos olhos que demonstram na maior parte das vezes um medo e uma tristeza sem fim.
Esta tem sido uma dura batalha contra um inimigo invisível do qual pouco se sabe. Resta que cada um de nós faça a sua parte porque conseguiremos ultrapassar esta pandemia. 
Se alguma vez pensei em viver algo assim? Nunca! Mas também sei que não é a primeira vez na história da humanidade que algo semelhante acontece. E eu acredito que os avanços tecnológicos e científicos da nossa era sejam capazes de travar o mais rápido possível este maldito vírus. 
Apenas sabemos que vivemos tempos estranhos!


O testemunho!

Decidi trazer aqui o meu testemunho sobre como foi ter a doença, uma vez que suscita algumas dúvidas e até curiosidade a quem não teve ou não conhece ninguém que tenha tido.
Tudo começou com algumas dores de garganta, dores musculares relativamente fortes e dores de cabeça que passavam com medicação. Nesse dia cheguei ao máximo de febre medida (37,9 graus) e a partir daí não voltei a ter febre. Quanto à tosse, era pouca e com o tempo passou a ser acompanhada de expetoração (a tosse associada à Covid-19 é tosse seca). Também tive espirros que, tal como a tosse produtiva, não estão associados à Covid-19. Resumindo... Tudo sintomas inespecíficos!

Como tinha apanhado frio no fim de semana, tudo levava a crer que fosse uma gripe (devido às dores musculares). Contudo, como agora a prática é ligar para a saúde 24, foi o que fiz. Fiquei em isolamento e dois dias depois a médica ligou-me e passou o teste que fiz imediatamente. 

Dois dias mais tarde, acordei com perda total do olfato e do paladar. 
Umas horas depois veio o resultado positivo

Para quem não está à espera, como foi o meu caso, é um choque tremendo! Façam o exercício de pensarem com quem estiveram nos últimos 5-7 dias. O que me aconteceu é o que penso que acontece a muitas pessoas. Ainda mal refeita da notícia, comecei logo a contactar todas as pessoas com quem estive e/ou precisava: os pais e irmã, na busca de conforto; os colegas de trabalho com quem passava o dia todo, incluindo a hora de almoço e, para piorar, tinha estado num casamento (claro que não tinha qualquer tipo de sintomas nesse dia), pelo que falei com todas as pessoas com quem tinha estado e fui mantendo contacto até terem passado 14 dias.

No dia em que soube o resultado do teste, o meu namorado foi fazer o dele. No dia seguinte soubemos que estava negativo! Isso motivou uma convivência difícil, com frascos de álcool pela casa, uso de máscara, e todo o contacto físico foi evitado.
 
Considero que, no caso de alguém mais jovem e sem grandes problemas de saúde como eu, fisicamente é bastante suportável. A nível psicológico é extremamente violento para nós e para quem nos quer bem. O sentimento de culpa, de pensar que naqueles curtos dias se pode ter contaminado alguém sem saber consome-nos por completo. Todos sabemos que ninguém contamina por querer e que não existem culpados, mas quando se está nessa situação, é muito difícil pensar assim. E o pânico das pessoas em redor é mais um motor de desconforto e de stress para quem está doente. Afeta de uma maneira gigantesca. Passaram dois dias até saber que todas as pessoas próximas estavam negativas... E esses dois dias equivaleram a uma eternidade. 

Porque existe uma grande probabilidade de ter apanhado em ambiente familiar, percebo que o Natal deste ano pode estar comprometido. É quando baixamos as guardas, quando não usamos máscara e quando é difícil impedir o contacto (principalmente com crianças envolvidas). Mas é natural, porque ninguém consegue viver sem afeto e em isolamento permanente.

No meio disto tudo, tenho que dizer que este ano trouxe coisas boas. Porque mesmo as coisas más podem ser boas! Neste ano aprendemos qual a essência do ser humano quando confrontado com a tragédia. Percebemos quem nos apoia nos piores momentos. Descobrimos que podemos ser fortes quando o azar nos bate à porta. E é apenas isso... Guardar as coisas e as pessoas que nos fazem bem. O resto... Não importa!


Comentários

  1. Felizmente, ainda não tive ninguem da minha familia ou ciclo de amigos proximos com COVID... mas honestamente cada vez me sinto mais assustada. No inicio, nunca pensei que isto fosse chegar ao ponto que chegou (mas acho que este sentimento é transversal), e à medida que a situação desenvolve, o meu medo cresce.
    De qualquer forma, obrigada pelo teu testemunho! É realmente importante ler de quem já passou pela experiência porque, no meu caso, ajudou-me a tranquilizar um pouco a inquietação que sinto

    Um beijinho grande*

    http://by-pattyy.blogspot.com/

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